quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Comunicação Não Violenta

Segue texto para reflexão. Peço que comentem.
Comunicação Não Violenta
"Poder sobre" versus "Poder com" 

Quando pais querem que crianças façam algo que elas não querem fazer, pode ser tentador forçar a obediência da criança utilizando a enorme força física, emocional e prática que os adultos têm sobre elas. (Por força prática eu quero dizer que adultos tem um acesso maior aos recursos da sociedade no controle do curso de suas próprias vidas e o de seus filhos). Mesmo assim, estou convencida de que o esforço de coagir uma criança a fazer algo que ela não quer não funciona efetivamente a curto prazo nem apóia famílias a conseguirem o que precisam a longo prazo. (A única exceção é quando existe ameaça direta à saúde ou segurança, e nesse caso a CNV sugere que utilizemos a força de modo protetor e não-punitivo.) Na CNV, nos referimos ao uso da força para impor o que queremos como "poder sobre", em contraste com o uso de força que atenda às necessidades de todos, ao qual nos referimos como "poder com".

Maria, uma mãe que havia lido alguns dos meus artigos, fez uma pergunta que toca diretamente na tentação de usar o controle que temos sobre recursos para influenciar o comportamento da criança:

 "Eu venho“negociando” com meu filho de dois anos, Guilherme; usando incentivos e castigos, e às vezes parece bastante efetivo. Pelo menos faz com que ele faça o que eu quero, tal como comer o que tem no prato dele. Assim mesmo, de alguma forma, eu me sinto desconfortável com isso. Existe algum problema com incentivos e castigos se eles funcionam?"

Acredito que há sim um problema com incentivos e castigos pois, no longo prazo, eles raramente funcionam da forma que gostaríamos. Na verdade, creio ser provável que seus resultados virão contra nós. Marshall Rosenberg investiga essa questão propondo aos pais duas perguntas: "O que vocês querem que seus filhos façam?" e "Quais motivos querem que seus filhos tenham, no momento de fazer o que vocês querem que eles façam?" Pais raramente querem que seus filhos façam algo motivados por medo das conseqüências, por culpa, vergonha, obrigação ou até mesmo pelo desejo de serem premiados.

Nesse contexto, quando ouço pais - ou especialistas na criação de jovens - relatarem que castigos são eficazes, eu me pergunto quais critérios estão usando para esta avaliação. Acredito que "eficaz" normalmente significa que os pais conseguem obediência de seus filhos – que fazem o que os pais mandam fazer - pelo menos por um tempo. Tanto o objetivo (obediência) quanto os meios (incentivos e castigos) vêm com um preço. Eles não apenas envolvem medo, culpa, vergonha, obrigação ou desejo pelo prêmio, como também são freqüentemente acompanhados de raiva e ressentimento. E porque incentivos e castigos são motivações externas (extrínsecas), as crianças se tornam dependentes delas e perdem contato com suas motivações internas (intrínsecas) para atender suas necessidades pessoais e às dos outros à sua volta.

Acredito que a mais poderosa e prazerosa motivação interna dos seres humanos ao decidir por alguma ação é o desejo de atender suas necessidades e dos que estão à sua volta. Ambos, crianças e adultos, agem repletos de motivação interna quando sentem uma conexão genuína consigo mesmos e com os outros, quando confiam que suas  necessidades importam para os outros, e quando experimentam a liberdade de escolher contribuir para o bem estar dos outros. Se quisermos que nossas crianças experimentem motivações internas para fazer o que pedimos que façam, podemos desapegar nosso foco de disciplina e autoridade imposta e concentrá-lo, tanto quanto possível, nas necessidades persistentes de todos. Isso pode envolver o investimento de mais tempo na hora de dialogar ou agir porque significa ir além do problema presente e relembrar o que mais importa num cenário maior. Mesmo assim, o retorno vale o investimento. A longo prazo, famílias experimentam conexão, confiança e harmonia mais profundas, e crianças aprendem poderosas habilidades para a vida . Acredito que a maioria dos pais acham estas metas mais atrativas e valiosas que a mera obediência.

 Ao invés de incentivos e castigos, a CNV oferece três pontos de partida para nos conectarmos com os outros: oferecer empatia, expressar suas próprias observações, sentimentos, necessidades e pedidos, e conexão consigo mesmo através de auto-empatia. A seguir, veremos o uso da primeira opção em relação à questão feita por Maria.

Psicologia Social e Serviço Social: uma relação interdisciplinar na direção da produção de conhecimento

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